quinta-feira, 16 de agosto de 2018

É TEMPO DE GANHAR DINHEIRO! 7º CAPÍTULO

A imagem pode conter: flor e plantaA imagem pode conter: flor e planta


19 de Janeiro de 1959 , era o dia do aniversário de Mariana , iria ser um dia igual a muitos outros  ,Manuel preparava-se para ir  guardar o gado depois do primeiro cafezinho e do primeiro cigarrinho
-Manel não queiras comer, só café e tabaco!
-Não comece logo de manhã, minha sogra!
-Pelo menos leva um bocado de pão e não te esqueças do fato de água que deve chover. E tu Catrina leva a capa de plástico para não te molhares tanto.
-Mãe apanhar azeitona chovendo custa muito, mas é tempo de ganhar dinheiro, não podemos desperdiçar nada.
-Estás trabalhando muito, qualquer dia caies doente e logo vai ser uma desgraça, eu já estou velha para tratar da menina e hoje dói-me a cabeça.
- Isso já passa, ponha os feijões ao lume e cuidado com a menina.
-Tu trabalhas de mais!
-Até à tarde.
-Até á tarde Catrina.
Lá vai Catarina a caminho da Rata para mais um dia de azeitona, na mão um saco de pano com a marmita e o pão (Ainda não se falava do drama dos sacos de plástico e nem do problema do plástico para a humanidades) e debaixo do braço a capa  de plástico.
“No ar espalhava-se a agradável melodia:
Com os pássaros do campo
Eu me quero comparar
Andam vestidos de penas
E o seu alívio é cantar”

“Não julgues por eu cantar
Que a vida alegre me corre
Eu sou como o passarinho
Tanto canta até que morre”

-Aí vem a nossa alegria, estás sempre contente, a vida corre-te de feição?
-“Quero cantar ser alegre
Que a tristeza não faz bem
Ainda não vi a tristeza
Dar de comer a ninguém”
-O manajeiro é que não acha às vezes graça às tuas cantorias, aí vem ele.
-Bom dia pessoal, vamos lá começar; vocês vão por esta fileira e vocês por aquela.
-Sempre se arranja para eu ir para a fileira mais má.
-Não te queixes que ainda não começaste a trabalhar. E já…
-Mas estou a ver que aquela azeitona é mais grande
-Trabalha mais e deixa-te de cantorias.
-E vosmecê a dar-lhe ainda hoje não cantei e eu só ganho o que apanho, e não trabalho com a boca.
-Deixe a Catrina cantar que ela nos alegra
-Alegra, alegra, põem-se feitas tontas a olhar para ela.
-Ti António não seja desmancha-prazeres que esta vida são dois dias, um dia vem a morte e leva tudo.
Soa a voz da Francisca que ao olhar para a sua sombra:
-Já é meio-dia, já tenho fraqueza
-Aguenta mais um pouco que ainda não é hora de almoçar
-Vamos todas a cantar assim o tempo passa mais depressa.
“O sol é que alegra o dia
Pela manhã quando nasce”
Ai de nós o que seria
Se o sol um dia faltasse “
-Agora todas.
“Vamos lá andando
Por esses campos fora
O sol já raiou
Nos lados da aurora
Nos lados da aurora 
Vamos lá andando
Pelos campos fora”
Algum tempo depois:
-Catrina o que trazes para comer, sempre a mesma coisa não é verdade?
-E a ti o que te importa, eu não tenho peixe todos os dias como vosmecês que trazem umas sardinha rançosas
-Não são nada rançosas são muito fresquinhas.
-Isso dizes tu!
-Prova uma e diz o que achas.
-Não está má.
-Tu o que queres é sardinha! Ah, ah, ah, ah!
-Vou pagar-te  a sardinha trago aqui uns rebuçados para vosmecês à saúde da minha Mariana que faz hoje dois aninhos.
Em uníssono:
-Deus lhe dê muitos anos de vida.
-Muito obrigado, aqui vai o rebuçado, primeiro prá Ana que é a mais velha, chupe-o que vai gostar.
-Só me resta chupar.Os meus dentes estão todos podres.
De repente a Francisca a benjamim do grupo (tinha apenas 17 anos) deu um grito:
-Ai,ai,ai, que se lho traga, ai que se lho traga!
Catarina não tinha explicado que os rebuçados eram uns chupas e tinham uma parte em plástico que não se comia. Ana pensava que aquilo se comia tudo e ia tragar-lho, valeu-lhe a atenção da jovem Francisca.
” Maldito plástico!”
O resto do dia foi uma risota com o episódio do chupa, de vez em quanto ouvia-se a frase “ Ai que se lho traga “ , mas Ana não lhe achava muita graça  e achava que estavam fazendo chacota dela e dizia:
-Que graça, que gracinha, isto podia ter acontecido com vocês e então achavam graça?
-Não se zangue Ana, não é por mal, ah,ah, ah, até me dói a barriga de tanto me rir1
-A culpa é tua Catrina que tinhas de trazer esses chupas.
Terminou o dia na azeitona mas Catarina ainda ia fazer umas horas no monte do patrão; passar a ferro ajudando a caseira do monte que não dava conta da labuta e assim Catarina ao fim do mês traria mais uns trocados para casa que ajudaria nas despesas da casa e assim ajudar o seu Manel a suportar o fardo da vida. Já em casa Catarina deu uma gargalhada e:
-Então que risa é essa agora?
-Não queiram saber o que aconteceu com a Ana hoje:
-Deve ser boa, para tu te estares a rir sozinha e dessa maneira como uma louca.
-Mariana vem cá, dá um beijo á mãe e diz-lhe quantos anos fizeste.
-Dois, respondeu a menina, mostrando dois dedinhos.
-Tomara que os das sejam maiores, vou apanhar uma empreitada de arrancar mato e ganho mais algum dinheiro.
-Que febre de trabalhar, um do tudo acaba e fica cá tudo.
“E acabou mesmo um dia, Catarina partiu e deixou tudo o que tinha amealhado ao longo da vida, deixou a sua alegria contagiante , seus segredos que nunca revelou a ninguém , seus sonhos que nunca partilhou com ninguém, deixou sua menina para quem foi o último pensamento na hora do adeus , não podendo evitar que duas lágrimas teimosas deslizassem pela sua face revelando contrariedade em partir , ainda poderia andar por cá mais alguns anos , mas a força que controla a nossa vida ( a que chamamos destino )achou que a sua passagem pela terra terminaria no dia 7 de Dezembro de 1974 ao clarear do dia  , que dia gelado! Que dia tão odiado! Que dia tão incompreendido! Recordo o seu rosto de uma alvura arrepiante, seu corpo rígido, inerte numa espera desconcertante da hora da despedida final ,quando vi pela última vez teu rosto e teu corpo entrar para  tua última morada terrena”
“Sei que velas por mim no local onde te encontras, tenho sentido a tua presença durante anos e anos, sei que tens sido tu um dos anjos da guarda que me têm acompanhado até aqui e amparado os meus passos tornando a minha caminhada menos dura desviando-me dos caminhos errados desta vida, sendo um dos meus guias protetores que me encaminham e orientam no bom caminho. Sempre senti que nunca estive sozinha e sempre nas horas mais dolorosas da minha caminhada, quando me senti incompreendida. Houve sempre quem me estendesse uma mão invisível que tornasse o meu caminhar mais seguro, sei que tu sempre estiveste a meu lado e continuas zelando por mim, nesta caminhada que ainda não chegou ao fim”
 A ti munha mãe envio um cravo vermelho , que foi para ti símbolo da liberdade que tu sonhaste  que se concretizou em plena primavera num dia de Abril já distante que tu aplaudiste com fervor e com amor , uma esperança renascida no coração do Homem 
Apenas um, minha mãe
resta do Abril distante
apenas um cravo vermelho
já não há tantos como antes!
II
É apenas um; mas encerra
e leva um aroma infinito
leva parte da minha alma
que não levaste contigo!
III
É só um , mas leva
as lágrimas da despedida
que tenho guardado comigo
pela estrada longa da vida!
IV
Mãe , este simples cravo
leva tanto ,tanto amor
vou poisar meus lábios
e beijá-lo com fervor!
V
Quando beijares o cravo
Sentirás com ardor
O calor dos meus lábios
E o sabor do amor
Conceição. Fátima, Necessidades, Carmo Rosário, Lourdes Aparecida, não importa o nome se o simbolismo é o mesmo; a mãe de Jesus e nossa mãe, pura e imaculada, acima de todas as mulheres , a ti envio um ramo das mais brancas rosas que consegui encontrar na Net ( imaginemos que são naturais e perfumadas levando até vós o doce aroma do agradecimento por tudo o que me tens dado nestes 61 anos da minha vida , por isso digo , obrigado mãe doce e protetora!
I
São rosas brancas para ti senhora
que colhi ao romper da aurora
são rosas brancas para ti senhora
manha mãe do céu , doce e protetora!
II
Sempre estiveste a meu lado
na longa estrada da vida
amparaste meu cansaço
suavizas-te minha caída!
III
Sempre que a minha alma sangrou
sempre que estive insegura
senti a tua presença protetora                                            
mesmo na noite mais escura!
IV
Em sinal de gratidão
eu te ofereço rosas brancas
as mais lindas flores
obrigado , Virgem Santa!
V
Ave-maria, mãe protetora
rezo com fervor
rezo pelo mundo
que precisa tanto de amor !
Coerente com a minha maneira de olhar a vida só fazia sentido olhar para o lado e identificar os alicerces que têm suportado minha vida e suavizado a o meu caminhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário