domingo, 22 de janeiro de 2012

A TI MINHA MÃE


Lavava no rio, lavava
Gelava-me o frio, gelava,
Quando ia ao rio lavar.
Passava fome, passava,
Chorava, também chorava,
Ao ver minha mãe chorar!
Cantava, também, cantava!
Sonhava, também, sonhava!
E, na minha fantasia,
Tais coisas fantasiava,
Que esquecia que chorava,
Que esquecia que sofria!


Já não vou ao rio lavar
Mas continuo a chorar!
Já não sonho o que sonhava!
Já não lavo no rio!
Por que me gela este frio
Mais do que então gelava?
Ai, minha mãe, minha mãe
Que saudades desse bem,
Do mal que eu não conhecia!
Dessa fome que eu passava,
Do frio que nos gelava,
E da minha fantasia!
Já não temos fome, mãe!
Mas já não temos também
O desejo de a não ter!
Já não sabemos sonhar,
Já andamos a enganar
O desejo de morrer!
Dedico esta poesia á  minha mãe que já não se encontra entre nós pois partiu num dia frio e triste de Dezembro , mas tenho a certeza que esta dedicatória chegará ao seu destino e com ela este oceano de saudades que a minha alma sente de alguém que muito a amou.Sei mãe que eras fã do fado e da Amália Rodrigues  e recordo a alegria que sentiste nesse ano 1974 , hoje eu recordo -o com alegria e tristeza :Em Abril o  sol de Agosto aqueceu os nossos corações e a esperança tornou-se contagiante ,mas 1974 terminou com impotência , soluços e lágrimas; pois tu mãezinha, tu que tanto me amaste , deixaste-me sozinha aqui nesta selva , deixaste-me  sozinha  e à deriva.                                                                           Recordo quando íamos lavar à ribeira , do cheirinho do sabão azul e branco e dos peixinhos cor de prata que vinham fazer cócegas nos meus pés descalços e jovens .Era tão jovem minha mãe!Tão jovem e cheia de sonhos! Era tão bom ler os jornais que encontrava no fundo da ribeira! Tudo tão longe e tão distante, tudo que o tempo levou e não trouxe mais !Tinha tão pouco e era tão feliz!Dava anos da minha vida se pudesse viver de novo esses momentos únicos : nós e a natureza! Hoje as minhas memórias transportam-me a um tempo onde a poluição e a corrupção não faziam parte das nossas vidas.                                             Mãe o nosso mundo mudou se voltasses assustavas-te da tremenda mudança que houve , hoje tudo tem evoluído , descobertas fantásticas aconteceram , mas lá no fundo bem no fundo o Homem não é feliz : As guerras continuam , a fome é uma realidade , a fossa entre ricos e pobres aumenta , todos os dias, este sistema a que chamam globalização cria novos pobres e os excluídos da sociedade  são cada vez  mais.Hoje viver na terra não é aliciante para ninguém , pois a maioria dos mortais já não consegue pagar as suas despesas  de sobrevivência.Hoje vivemos num mundo irreal e assustador onde uma minoria toma decisões a seu belo prazer e a nós comuns mortais só nos resta obedecer.Uma onda de crimes e violência alastra-se pelo nosso querido Portugal com um sistema judicial que não nos dá segurança.Lamento desiludir-te mas a democracia e a liberdade não passaram de simples ilusões e foi tudo um sonho lindo que anos e anos acalentámos mas com o tempo esvaiu-se reduzindo-se a pó  Não foi com isto que tu sonhaste  e idealizaste , minha mãe.                                            
   Foi tão bom desabafar contigo e despeço-me com um até já.Beijinhos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cantar de emigração

Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará


Quando os portugueses enfrentam o triste dilema que os empurra para fora do país , pois em Portugal não há condições de sobrevivência  e principalmente a nossa nata jovem vê-se obrigada a procurar poiso noutras paragens onde possam viver com a dignidade que lhe é negada no seu próprio país . Triste país à beira mar plantado , novamente vês partir teus filhos , hoje mais especializados que os emigrantes do passado que irão contribuir com as suas capacidades o enriquecimento de outros países.
Até já.