I
Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço
Na segunda parte identifica os responsáveis de semelhante humilhação que se desenrola no mar alto , não fossem eles os seres iluminados da velha Europa hoje tão decadente mas que em pleno século XXI , permite situações que nos envergonham a todos.
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar? ....
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor! ...
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou, ...
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!...
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
Na terceira parte conta num conjunto de versos de uma maneira incrédula algo terrível que visualiza no navio da humilhação e da morte.
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Na quarta parte faz a descrição macabra do cenário:
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Na quinta parte pergunta-se a razão de tal sorte e porque é que essas pessoas estão ali , ao mesmo tempo , o eu poético manifesta a sua indignação e pede castigos exemplares para qem é responsável por semelhantes atrocidades:
V
Quem são estes desgraçados São os filhos do deserto, São mulheres desgraçadas, Lá nas areias infindas, Depois, o areal extenso... Ontem a Serra Leoa, Ontem plena liberdade, Senhor Deus dos desgraçados! Na sexta e último aponta o dedo a Portugal , visto esses escravos serem provenientes do nosso passado de colonizador , e a bandeira nacional ser visível nos mastros desse navios sendo fonte de riqueza para uma minoria e de vergonha e indignação para a maioria do povo lusitano conhecedor de tais actos: VI
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