Cheguei a Moura numa tarde cinzenta de Setembro, pela primeira vez ia ficar sozinha longe da minha família.Fiquei numa casa de família onde dividia o quarto com outra colega, o que foi bom permitiu-me aprender a partilhar o mesmo espaço com outras pessoas.
Hortelinda, Feliciana. Maria Isabel, Fátima e Joaquina : amigas do coração e colegas de turma.Onde uma se encontrava , as outras cinco estavam perto,éramos um grupo inseparável!Hoje, recordo-as com saudades, porque perdi o seu contacto e nunca mais soube delas. A Feliciana é a única com quem mantenho contacto; de vez em quando temos tido oportunidade de matar saudades , e comprovar a passagem do tempo por nós.
Entre livros e paixonetas de adolescente foi assim que decorreram os três anos que passei em Moura: Frequentava a biblioteca municipal e nasceu em mim o gosto pela poesia e o interesse pelo trabalho dos nossos escritores.Era uma devoradora de livros, uma leitora compulsiva e graças a isso , embarcava em aventuras fascinantes.
O curso decorreu com normalidade , as minhas disciplinas preferidas eram: português, história,.francês, economia política e marketing.
O ano de 1974, ano em que terminei o curso ficou marcado para sempre na minha vida:Em Dezembro o ser que me deu a vida , fez uma viagem sem retorno e com apenas dezassete anos de idade fiquei orfã do amor materno.
O ano acabou negro, mas começou com alegria e esperança, com o 25 de Abril , uma onda de euforia contagiou o país de lés a lés, e aquilo com que eu tinha sonhado , era uma realidade! Os cravos vermelhos tornaram-se símbolo de uma revolução há muito desejada.Nas ruas , o povo entoava slogans e cânticos revolucionários: o verde da esperança, o vermelho dos cravos e a brancura da paz, coloriram o céu desta pátria à beira mar plantada e sentia-se no ar o perfume e o sabor da liberdade!!!
Os políticos que estavam no exílio puderam enfim voltar, as manifestações de rigozijo sucediam-se por todo o país: Era algo maravilhoso o que estava a acontecer, finalmente , após tantos anos de escuridão , vivia-se uma era de liberdade e o povo desfrutava isso com imenso prazer.Hoje com tristeza constato que o dia 25 de Abril de 1974 não passou de um sonho lindo e que os cravos cravos vermelhos murcharam com o calor tórrido do Verão.
O que o 25 de Abril trouxe, as políticas implementadas pelos sucessivos governos foram levando! É caso para dizer " e tudo o vento levou!!!"
Depois vim para Barrancos com o meu pai , e aqui conheci o homem com quem casei e compartilhei os bons e os maus momentos com que a vida me confrontou.
O nosso amor germinou e brotaram três rosas que preencheram a minha vida.Foram longos anos de dedicação, a minha vida foi uma letargia contínua , vivi a felicidade do meu marido e dos meus filhos, esquecendo-me que eu também tinha direito à minha realização pessoal: Para quem tinha sonhado com a felicidade do ser humano, foi anómalo esquecer-me de mim, mas essa entrega preencheu a minha vida e fui feliz .
Em 1988 voltei à vida activa, integrei um equipa de quatro adjuntos de coordenação
com sede no Centro de Emprego de Beja, cabendo-me a mim coordenar os concelhos de Moura e Barrancos.Foi muito o ano de 1988 pois viajei bastante pelas diversas localidades dos dois concelhos, evidenciando o contacto humano que estabeleci, tocando-me profundamente a solidariedade que senti da parte dessa gente.
Em Santo Amador , sensibilizou-me a atitude de pessoas que manifestaram não se importarem trabalhar alternadamente, para que todas o pudessem fazer, neste mundo em que o ser humano se preocupa apenas com o seu umbigo, não posso deixar de realçar gestos que enaltecem o Homem.
Uns anos depois frequentei uma acção de formação que contribuiu para o rumo que tomou a minha vida nos anos seguintes: Depois de oito meses de formação na área de artesanato( cestos e cadeiras), eu e a Ana Bé arregaçámos as mangas e demos início a uma aventura de onde nasceria uma grande amizade. Durante seis anos os nossos dias foram preenchidos com muito trabalho, alternando idas ao campo buscar materiais com participações em feiras de artesanato. As experiências vividas foram muito importantes e reflectiram-se no meu crescimento pessoal.
Mas tudo que nasce , morre e a Noudarte teve o seu fim e então fui para a Sociedade União Barranquense com o meu filho, onde estivemos durante oito anos.Foi muito bom , o relacionamento humano que aí foi possível estabelecer, eu gosto da interacção com as pessoas numa altura em que todos os holofotes estavam apontados para a vila de Barrancos , em parte devido ao Zé Maria vencedor do Big Brother e à polémica sobre os touros de morte, não foi difícil encontrar actores com quem contracenar.
Em 2001 , nasceu o ser que me dá forças para continuar em frente , com determinação enfrentando os dilemas do dia a dia com coragem .
Dia 2 de Novembro o meu netinho Jorge , respirou pela primeira vez o ar desta selva que se chama Terra.
Foi tão bom vê-lo crescer! O primeiro dentinho, os primeiros passos, as primeiras palavras"São oito anos de boas recordações.
Despeço-me por hoje, brevemente continuarei.
Até
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