quinta-feira, 7 de junho de 2018

ECOS DE UMA VIDA -CAPÍTULO PRIMEIRO


Estávamos em Dezembro de 1956,,, precisamente , algures numa aldeia perdida na imensidão da vasta província alentejana. Dia 24 de Dezembro, Vicência e Catarina preparavam mais uma fornada, o forno de lenha já estava quente e Catarina com toda a destreza tendia o último pão.
    Vicência  pensativa   olhava a filha com apreensão ajudando-a a meter o pão no forno, enquanto que no ventre de Catarina , nova vida palpitava preparando-se para atravessar o túnel que a traria à selva que é o nosso mundo.Catarina  já tinha mais de trinta anos  , acariciando a barriga sorrio pensando no rebento  que trazia no seu seio “ Será menino? Será menina?Não interessa o que é preciso é que venha com saúde”.
     Vicência olhando Catarina  pensava nas três filhas  que Deus tinha levado há uns bons anos atrás : Catarina tinha sete aninhos apenas quando a maldita tosse convulsa a arrancou dos braços de sua mãe. Passados pouco tempo a morte tornou a passar por ali levando Maria Sena , um anjinho com 4 meses  apenas de vida. Vicência em desespero questionava-se olhando o céu –Porquê , meu Deus ? Porquê?
Que triste sina a de Vicência! Sentia-se abandonada pelo Senhor!
Abraçando o seu marido  e olhando o seu único filho , prometeram ultrapassar  tudo de mau que estavam vivendo e cambaleando enfrentaram a vida e seguiram em frente.
Deus abençoou o casal e nasceram Maria Sena  , Catarina e João e  a alegria voltou  àquele lar, os anos foram passando até que uma tarde mau presságio assombrou  o ambiente enquanto se ouviam os cães uivando e Vicencia olhando a Maria  Sena  já com doze anos e nem imaginando o que ainda a esperava exclamou : Vai morrer o primo Zé que está muito mal. Enigmaticamente  Maria Sena  Maria Sena exclamou:-Só Deus sabe, mãe , só Deus sabe!
Naquela noite João o benjamim  da família deitou-se com a mana Sena e durante a noite teve sede e pediu água como a mana não respondeu começou a chorar.Vicência que tinha um baile em casa acudiu ao choro do filho e eis que se depara com a sua linda e querida filha inerte , já sem vida  , tinha finado durante o sono. Uma dor dilacerante atravessou –lhe o peito e um grito do tamanho do mundoecoou naquela casa:-Bento , ai Bento , a nossa filhinha , a nossa Maria Sena está morta. Bento ficou sem chão , imóvel e impotente perante a vida que bastante madrasta tinha sido com ele e agora a sua filhinha já moça, tão linda, tão perfeita tinha partido e nunca mais a veria.


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