19 de Janeiro de 1959 ,
era o dia do aniversário de Mariana , iria ser um dia igual a muitos
outros ,Manuel preparava-se para ir guardar o gado depois do primeiro cafezinho e
do primeiro cigarrinho
-Manel não queiras comer,
só café e tabaco!
-Não comece logo de
manhã, minha sogra!
-Pelo menos leva um
bocado de pão e não te esqueças do fato de água que deve chover. E tu Catrina
leva a capa de plástico para não te molhares tanto.
-Mãe apanhar azeitona
chovendo custa muito, mas é tempo de ganhar dinheiro, não podemos desperdiçar
nada.
-Estás trabalhando
muito, qualquer dia caies doente e logo vai ser uma desgraça, eu já estou velha
para tratar da menina e hoje dói-me a cabeça.
- Isso já passa, ponha
os feijões ao lume e cuidado com a menina.
-Tu trabalhas de mais!
-Até à tarde.
-Até á tarde Catrina.
Lá vai Catarina a
caminho da Rata para mais um dia de azeitona, na mão um saco de pano com a
marmita e o pão (Ainda não se falava do drama dos sacos de plástico e nem do
problema do plástico para a humanidades) e debaixo do braço a capa de plástico.
“No ar espalhava-se a
agradável melodia:
Com os pássaros
do campo
Eu me quero
comparar
Andam vestidos
de penas
E o seu alívio é
cantar”
“Não julgues por
eu cantar
Que a vida
alegre me corre
Eu sou como o
passarinho
Tanto canta até
que morre”
-Aí vem a nossa
alegria, estás sempre contente, a vida corre-te de feição?
-“Quero cantar
ser alegre
Que a tristeza
não faz bem
Ainda não vi a
tristeza
Dar de comer a
ninguém”
-O manajeiro é
que não acha às vezes graça às tuas cantorias, aí vem ele.
-Bom dia pessoal,
vamos lá começar; vocês vão por esta fileira e vocês por aquela.
-Sempre se
arranja para eu ir para a fileira mais má.
-Não te queixes
que ainda não começaste a trabalhar. E já…
-Mas estou a ver
que aquela azeitona é mais grande
-Trabalha mais e
deixa-te de cantorias.
-E vosmecê a
dar-lhe ainda hoje não cantei e eu só ganho o que apanho, e não trabalho com a boca.
-Deixe a Catrina
cantar que ela nos alegra
-Alegra, alegra,
põem-se feitas tontas a olhar para ela.
-Ti António não
seja desmancha-prazeres que esta vida são dois dias, um dia vem a morte e leva
tudo.
Soa a voz da
Francisca que ao olhar para a sua sombra:
-Já é meio-dia,
já tenho fraqueza
-Aguenta mais um
pouco que ainda não é hora de almoçar
-Vamos todas a
cantar assim o tempo passa mais depressa.
“O sol é que
alegra o dia
Pela manhã
quando nasce”
Ai de nós o que
seria
Se o sol um dia
faltasse “
-Agora todas.
“Vamos lá
andando
Por esses campos
fora
O sol já raiou
Nos lados da
aurora
Nos lados da
aurora
Vamos lá andando
Pelos campos
fora”
Algum tempo depois:
-Catrina o que
trazes para comer, sempre a mesma coisa não é verdade?
-E a ti o que te
importa, eu não tenho peixe todos os dias como vosmecês que trazem umas sardinha
rançosas
-Não são nada
rançosas são muito fresquinhas.
-Isso dizes tu!
-Prova uma e diz
o que achas.
-Não está má.
-Tu o que queres
é sardinha! Ah, ah, ah, ah!
-Vou pagar-te a sardinha trago aqui uns rebuçados para
vosmecês à saúde da minha Mariana que faz hoje dois aninhos.
Em uníssono:
-Deus lhe dê
muitos anos de vida.
-Muito obrigado,
aqui vai o rebuçado, primeiro prá Ana que é a mais velha, chupe-o que vai
gostar.
-Só me resta
chupar.Os meus dentes estão todos podres.
De repente a
Francisca a benjamim do grupo (tinha apenas 17 anos) deu um grito:
-Ai,ai,ai, que
se lho traga, ai que se lho traga!
Catarina não
tinha explicado que os rebuçados eram uns chupas e tinham uma parte em plástico
que não se comia. Ana pensava que aquilo se comia tudo e ia tragar-lho,
valeu-lhe a atenção da jovem Francisca.
” Maldito
plástico!”
O resto do dia
foi uma risota com o episódio do chupa, de vez em quanto ouvia-se a frase “ Ai
que se lho traga “ , mas Ana não lhe achava muita graça e achava que estavam fazendo chacota dela e
dizia:
-Que graça, que gracinha,
isto podia ter acontecido com vocês e então achavam graça?
-Não se zangue
Ana, não é por mal, ah,ah, ah, até me dói a barriga de tanto me rir1
-A culpa é tua
Catrina que tinhas de trazer esses chupas.
Terminou o dia
na azeitona mas Catarina ainda ia fazer umas horas no monte do patrão; passar a
ferro ajudando a caseira do monte que não dava conta da labuta e assim Catarina
ao fim do mês traria mais uns trocados para casa que ajudaria nas despesas da
casa e assim ajudar o seu Manel a suportar o fardo da vida. Já em casa Catarina
deu uma gargalhada e:
-Então que risa
é essa agora?
-Não queiram
saber o que aconteceu com a Ana hoje:
-Deve ser boa,
para tu te estares a rir sozinha e dessa maneira como uma louca.
-Mariana vem cá,
dá um beijo á mãe e diz-lhe quantos anos fizeste.
-Dois, respondeu
a menina, mostrando dois dedinhos.
-Tomara que os
das sejam maiores, vou apanhar uma empreitada de arrancar mato e ganho mais
algum dinheiro.
-Que febre de trabalhar,
um do tudo acaba e fica cá tudo.
“E acabou mesmo
um dia, Catarina partiu e deixou tudo o que tinha amealhado ao longo da vida,
deixou a sua alegria contagiante , seus segredos que nunca revelou a ninguém ,
seus sonhos que nunca partilhou com ninguém, deixou sua menina para quem foi o
último pensamento na hora do adeus , não podendo evitar que duas lágrimas
teimosas deslizassem pela sua face revelando contrariedade em partir , ainda
poderia andar por cá mais alguns anos , mas a força que controla a nossa vida (
a que chamamos destino )achou que a sua passagem pela terra terminaria no dia 7
de Dezembro de 1974 ao clarear do dia ,
que dia gelado! Que dia tão odiado! Que dia tão incompreendido! Recordo o seu
rosto de uma alvura arrepiante, seu corpo rígido, inerte numa espera desconcertante
da hora da despedida final ,quando vi pela última vez teu rosto e teu corpo entrar
para tua última morada terrena”
“Sei que velas
por mim no local onde te encontras, tenho sentido a tua presença durante anos e
anos, sei que tens sido tu um dos anjos da guarda que me têm acompanhado até
aqui e amparado os meus passos tornando a minha caminhada menos dura
desviando-me dos caminhos errados desta vida, sendo um dos meus guias
protetores que me encaminham e orientam no bom caminho. Sempre senti que nunca
estive sozinha e sempre nas horas mais dolorosas da minha caminhada, quando me
senti incompreendida. Houve sempre quem me estendesse uma mão invisível que
tornasse o meu caminhar mais seguro, sei que tu sempre estiveste a meu lado e
continuas zelando por mim, nesta caminhada que ainda não chegou ao fim”
A ti munha mãe envio um cravo vermelho , que
foi para ti símbolo da liberdade que tu sonhaste que se concretizou em plena primavera num dia
de Abril já distante que tu aplaudiste com fervor e com amor , uma esperança
renascida no coração do Homem
Apenas um, minha mãe
resta do Abril distante
apenas um cravo vermelho
já não há tantos como antes!
II
É apenas um; mas encerra
e leva um aroma infinito
leva parte da minha alma
resta do Abril distante
apenas um cravo vermelho
já não há tantos como antes!
II
É apenas um; mas encerra
e leva um aroma infinito
leva parte da minha alma
que não levaste contigo!
III
É só um , mas leva
as lágrimas da despedida
que tenho guardado comigo
pela estrada longa da vida!
IV
Mãe , este simples cravo
leva tanto ,tanto amor
vou poisar meus lábios
e beijá-lo com fervor!
V
Quando beijares o cravo
Sentirás com ardor
O calor dos meus lábios
E o sabor do amor
III
É só um , mas leva
as lágrimas da despedida
que tenho guardado comigo
pela estrada longa da vida!
IV
Mãe , este simples cravo
leva tanto ,tanto amor
vou poisar meus lábios
e beijá-lo com fervor!
V
Quando beijares o cravo
Sentirás com ardor
O calor dos meus lábios
E o sabor do amor
Conceição. Fátima, Necessidades, Carmo
Rosário, Lourdes Aparecida, não importa o nome se o simbolismo é o mesmo; a mãe
de Jesus e nossa mãe, pura e imaculada, acima de todas as mulheres , a ti envio
um ramo das mais brancas rosas que consegui encontrar na Net ( imaginemos que
são naturais e perfumadas levando até vós o doce aroma do agradecimento por
tudo o que me tens dado nestes 61 anos da minha vida , por isso digo , obrigado
mãe doce e protetora!
I
São rosas brancas para ti senhora
que colhi ao romper da aurora
são rosas brancas para ti senhora
manha mãe do céu , doce e protetora!
II
Sempre estiveste a meu lado
na longa estrada da vida
amparaste meu cansaço
suavizas-te minha caída!
III
Sempre que a minha alma sangrou
sempre que estive insegura
São rosas brancas para ti senhora
que colhi ao romper da aurora
são rosas brancas para ti senhora
manha mãe do céu , doce e protetora!
II
Sempre estiveste a meu lado
na longa estrada da vida
amparaste meu cansaço
suavizas-te minha caída!
III
Sempre que a minha alma sangrou
sempre que estive insegura
senti a tua presença protetora
mesmo na noite mais escura!
IV
Em sinal de gratidão
eu te ofereço rosas brancas
as mais lindas flores
obrigado , Virgem Santa!
V
Ave-maria, mãe protetora
rezo com fervor
rezo pelo mundo
que precisa tanto de amor !
mesmo na noite mais escura!
IV
Em sinal de gratidão
eu te ofereço rosas brancas
as mais lindas flores
obrigado , Virgem Santa!
V
Ave-maria, mãe protetora
rezo com fervor
rezo pelo mundo
que precisa tanto de amor !
Coerente com a minha
maneira de olhar a vida só fazia sentido olhar para o lado e identificar os
alicerces que têm suportado minha vida e suavizado a o meu caminhar.